Olá músicos!

Esse blog foi criado com o objetivo de entreter bandas afim de trocar conhecimentos musicais, artístico e divulgar as bandas que estão começando.

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"Você é do tamanho dos seus sonhos" César Souza

É isso aí!

sábado, 9 de outubro de 2010

Conheça um pouco sobre a História de Legião Urbana.



Vindos de uma juventude punk forjada sob o olhar da classe média de Brasília, centro do poder no período militar, um grupo de amigos, conhecidos como a Turma da Colina, tinha muito para dizer. Cultos, com formação em bons colégios, viajados, eles foram se encantar logo pela anarquia punk. Natural numa cidade em que a impunidade era comum para quem está tão próximo ao poder.
Brasília era ainda uma ilha cultural em relação ao resto do país. Não tardou para que Jorge Davidson, o cara que lançara os Paralamas do Sucesso, quisesse lançar também aquela nova jóia que surgia na sua frente. Logo em seguida, eram eles, Renato, Dado e Marcelo, que estavam de mudanças para o Rio. Contrato assinado, chance de gravar um disco e a tal história começa a não ser só dos três, mas de uma geração inteira.
Meses depois daquele show, eles retomaram os trabalhos que dariam luz a As Quatro Estações. Estavam convencidos de que os tempos eram outros e que o processo de espiritualização individual era um caminho mais efetivo para mudanças do que os brados punks de 1978, afinal dez anos já haviam se passado. A obra de Renato Russo e, por consequência, da Legião Urbana circulava pelas fronteiras entre a ética pública e a ética privada, como definiu Arthur Dapieve no livro “Renato Russo, o Trovador Solitário”. Seja na condução do país, da coisa pública, dos meios de comunicação ou na sinceridade e respeito aos sentimentos individuais, era preciso disciplina, compaixão, bondade e coragem. Neste disco, lançado em 1989, essas esferas da vida de todo cidadão eram rediscutidas. Juntando Camões com a filosofia de textos bíblicos e budistas, a poesia de Renato chegava ao auge da forma e se tornava ainda mais precisa sobre os problemas do seu tempo. Do desgaste das relações familiares à Aids, da intolerância e dos preconceitos sexistas ao amor romântico idealizado e inatingível, a Legião Urbana encerrava os anos 80 traçando o panorama daqueles tempos e jogando luzes de esperança para dias tão sombrios.
Essa tal esperança que aparecia em As Quatro Estações coincidia com a que alimentava o processo eleitoral brasileiro. Pela primeira vez em quase trinta anos, o país voltava a vivenciar uma escolha democrática de presidente da Repúbica. O fracasso da era Sarney se redimia pela certeza de que, em breve, o povo brasileiro voltaria a ser senhor da sua história. Só que a expectativa virou trauma. Não havia mais ninguém em quem se pôr a culpa pela escolha de Collor e o preço que se pagava era caro. A cada hora que se passava, se envelhecia dez semanas. A apatia e o marasmo, frutos da incredulidade frente ao que se vivia, eram refletidos pelo novo trabalho do grupo. Em V, Renato voltava a fazer uso das figuras medievais e rômanticas, agora com mais ênfase, para tratar da tal esfera pública e se aproximava mais da simplicidade, delicadeza e despretensão ao falar das relações pessoais. A saída da falta de perspectivas para o cenário do país estava numa melhor condução das relações cotidianas. Bonfá e Dado também passavam por um processo criativo rico e as músicas da Legião ganhavam novas formas e dinâmicas. Os arranjos eram mais complexos e novos instrumentos apareciam. Antes da gravação deste disco, Renato se descobrira infectado pelo vírus HIV.

O surgimento da MTV criara a necessidade de as bandas investirem em videoclipes de divulgação, coisa que a Legião Urbana não era muito chegada desde as experiências frustrantes na década de 80. Para suprir essa exigência de marketing, o grupo se dispôs a gravar versões acústicas das canções do álbum para um especial da emissora. Assim, ficariam – que maravilha! – livres da obrigação dos clipes. Na época, 1992, o programa da MTV não representava tanto como veio a ocorrer anos depois. Tanto é que os registros feitos pela Legião só foram lançados comercialmente em 1999.
A turnê de V seria a maior e a mais pretensiosa da Legião Urbana. Um grande show foi preparado, mas a excursão foi interrompida cedo. A dependência química de Renato não aguentou o tranco causado pela exposição que a estrada trazia e as relações internas na equipe ficaram estremecidas após um show em Natal. A turnê foi interrompida no meio e a saída foi lançar um álbum duplo de gravações feitas ao longo dos anos e que se tornou o primeiro registro ao vivo da história do grupo. Música para Acampamentos chegou às lojas ainda em 1992 e tapou o buraco até que a banda retornasse para o disco seguinte. Neste período, Renato iniciou seu processo mais intenso de reabilitação e tratamento.
Em 1993, Fernando Collor já tinha renunciado diante da pressão da opinião pública. A ressaca e a incredulidade se misturavam a algum resquício de esperança pós-impeachment, mas a situação ainda era instável demais. Renato se incomodava com o que os jovens, seus fãs – por quem sempre nutriu muito respeito e preocupação – viviam. Para ele, a juventude brasileira era muito maltratada e não tinha razões para sorrir diante de um país em crise, da falta de empregos, da hiperinflação, da instabilidade política e de tantas mentiras. Nesta mesma época, o rock havia sido alijado dos mesmos meios de comunicação que o sugaram na década anterior. Para muitos, V é uma das principais obras de arte feitas sobre os anos Collor. Um dos grandes méritos da Legião Urbana foi nunca ter feito da esperança um artifício pálido. Ela sempre deu as caras na obra da banda, mas retratada em meio ao caos que a cercava e ao qual ela resistia. Um sentimento que nunca foi banalizado e por isso mesmo seguia real e forte.
Em O Descobrimento do Brasil lá estava ela novamente. No sexto disco de estúdio (sétimo na carreira), a Legião Urbana voltava mais serena que em V. Os novos arranjos eram menos arrastados e tinham mais dinâmica. Logo pela capa se via que era um disco com mais cores do que o anterior. Renato estava certo de que só pelas relações de afeto puro, seja ele numa relação familiar, sexual ou de amizade, se poderia atingir o equílibrio. Ele pregava isso em meio às suas desilusões e expectativas. Não era, contudo, um disco sorridente. Isso não caberia. Nas cinco partes de “Perfeição”, a pena do poeta rasgava a seda da apatia –  ainda resquício da era Collor – com um dos textos mais contudentes sobre aqueles tempos. A Legião Urbana levantava o dedo para o cinismo das falsas alegrias, típicas da cultura midiática ufanista que se tem no Brasil e que sempre foi usada para mascarar tantas das nossas tragédias sociais. Ainda assim, a canção terminava olhando pra frente, com algum otimismo: “nosso futuro recomeça/ venha, que o que vem é perfeição”.
Afora isso, em grande parte das letras de O Descobrimento do Brasil, Renato discorre, por uma perspectiva muito pessoal, sobre uma série de idealizações. Novamente, elas eram ligadas ao imaginário de uma vida mais simples e comum, com a diferença de que isso, neste disco, já lhe parecia fugir às mãos. Tinha a tal esperança, mas não era necessariamente um discurso confiante. O tal equilibrio buscado por ele vinha revestido por ora nostalgia ora por raiva ou, às vezes, por resignação. Dado e Bonfá lhe ofereciam algumas das melhores músicas que já haviam feito, como “Love in the afternoon” e “Giz”.
A turnê daquele disco, que seria a última do grupo, também foi interrompida por incidentes em uma das apresentações. Em janeiro de 1995, em Santos, depois de ser atingido por um objeto atirado pela plateia, Renato levou o show deitado por mais 45 minutos até encerrá-lo. A Legião Urbana deu um tempo novamente.
Na sequência, Renato cuidou de sua carreira solo e lançou dois discos, “The Stonewall Celebration Concert” e “Equilíbrio Distante”. A banda voltaria a se reunir um ano depois do episódio em Santos para gravar um novo disco. Tanto tempo sem trabalharem juntos lhes rendeu muito material original e o processo em estúdio gerou registros suficientes para se lançar um álbum duplo. A ideia foi descartada em razão do alto preço que um produto desses teria nas lojas. Devido ao agravamento de sua doença, Renato estava frágil e não podia passar muito tempo nas gravações. O assunto era tratado com muito respeito e restrições pelos poucos que sabiam do que se passava com o vocalista. Por isso, com o objetivo de tornar aquele momento o mais exclusivo possível, poucas pessoas foram autorizadas a entrar no estúdio. Desta forma, Dado Villa-Lobos comandou a produção do álbum e assinou junto com o grupo.
A Tempestade ou O Livro dos Dias foi lançado em setembro de 1996.  Musicalmente, Dado, Bonfá e Renato tinham um disco mais rock’n roll nas mãos. Renato tinha solidão em sua pena. Quando “A Via Láctea” tocou nas rádios, um alarme soava no ouvido dos fãs: Renato parecia se despedir. Um mês após o lançamento, ele faleceu em seu apartamento. Uma semana após sua morte, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá anunciaram o fim das atividades da banda, mas anteciparam que outros lançamentos de materiais previamente produzidos aconteceriam.

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